quinta-feira, 14 de junho de 2012

LIBRAS, Aspectos Relevantes





   Evidentemente existe cultura surda. Ela surge da necessidade, assim como em qualquer organização que busca o seu espaço na sociedade. Logo, a cultura surda, luta ferrenhamente para legitimar a sua identidade própria com um conjunto de hábitos interagentes através da sua língua natural.
   Os aspectos sociolinguísticos e gramaticais das línguas de sinais são heterogêneos.  Segundo Perlin (1998), podemos considerar a possibilidade de múltiplas identidades surdas, ou seja, elas são de fato heterogêneas e apresentam diferentes facetas.
   Existe uma associação entre a língua e a cultura dos povos. Segundo o texto, aqui adaptado, de Maria Helena Mira Mateus, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa-Rio de Janeiro, é normal afirmar que a língua tem identificação com o fator cultural. Mas há alguns questionamentos sob esta afirmação perante a constatação de que uma só língua identifica, frequentemente, culturas distintas. Assim sucede com o Inglês, o Castelhano, o Português ou as línguas faladas pelos Apaches e Navahos, no sudoeste dos Estados Unidos, idênticas às línguas do Atabasca, no norte do Canadá e no Alasca (Titiev, 1963:324). 
Ao analisar diferentes perspectivas sobre as relações entre língua e cultura, a citação do filósofo e linguísta, que longamente discorreu sobre esta questão, Wilhelm Von Humboldt, diz o seguinte, num dos seus mais interessantes escritos, que tem o elucidativo título de "Sobre a origem das formas gramaticais e sobre a sua influência no desenvolvimento das ideias”:
1.          As palavras são como "objetos reais" e as relações gramaticais servem apenas de nexo; mas o discurso só é possível com o concurso de ambas (p. 14). Contudo, o que caracteriza o mérito de uma língua são as suas formas gramaticais, que permitem a representação do pensamento abstrato.
2.         As características da forma possibilitam o reconhecimento da "ação do pensamento", pelo que uma língua nunca alcançará uma excelente constituição gramatical se não tiver o feliz privilégio de ser falada, pelo menos uma vez, por uma nação de inteligência viva ou de pensamento profundo (p. 33). 
Existe, portanto, entre língua e pensamento caracterizador de uma nação (entenda-se também, cultura), uma dialética impulsionadora da elevação do pensamento abstrato, que tem como motor inicial a superioridade da comunidade nacional.
Em resumo, visto que esse mote é muito interessante e lato, a língua materna de cada indivíduo contribui poderosamente para se reconhecer a si próprio e para ser reconhecido pelo outro. É na realidade um fator de identificação cultural, mas no uso, e pelo uso, que dela faz o indivíduo no contexto em que está inserido e não apenas por pertencer a uma das várias comunidades que a utilizam a mesma língua. Como reflexão: “Se a língua é um fator de identificação cultural, como se compreenda que uma língua viva em diferentes culturas?
   A dinâmica é que todo grupo social desenvolva a língua e a cultura paralelamente. Pois o seu desenvolvimento de percepção e de formação de personalidade se construirá, basicamente, entre essas duas vertentes. Dentro dessa proposta, entende-se que o sujeito se constitui numa crescente construção, à medida que interage com as perspectivas culturais que o seu meio ambiente lhe proporciona. No entanto, alguns sujeitos, que pertencem a um grupo social, no caso os surdos, não têm as mesmas prerrogativas. Isso devido a alguns fatores, sobretudo socioeconômico. Logo esses indivíduos ficam restritos de progressivo desenvolvimento que acaba comprometendo a sua própria identidade surda.
   A língua é, evidentemente, fruto da cultura. Mas a cultura também é muito resultado da língua. Visto que ambos se complementam necessariamente.
   Diversas são as línguas de sinais. Cada país tem a sua língua de sinais própria que diferem de outros países. Basicamente são 177 as línguas catalogadas, além dos dialetos; peculiaridades e variantes regionais de cada região. Logo essas línguas são organizadas conforme suas especificidades.
   Numa língua de sinais os gestos e sinais não possuem os mesmos conceitos e sentidos. Pesquisadores como Jordan e Battison, concluíram que uma língua de sinais não é transparentemente inteligível por surdos monolíngues de outra língua de sinais. Um exemplo é o nosso sinal manual para NÃO, numa comparação entre a nossa língua de sinais e a americana, os gestos, possuem semelhança idêntica, mas o seu conceito é diferente. Pra nós o tal gesto caracteriza Não, para os americanos sinalizantes significa ONDE.
   As variações lingüísticas na LIBRAS é causado e feito no meio ambiente social que cada indivíduo surdo está inserido. Nascem daí as suas particularidades, sotaques, gírias e todo um conjunto de hábitos típicos de cada região, conforme toda língua natural qualquer. E além das LIBRAS, com seus dialetos, tem também aqui no Brasil a língua de sinais usada por uma tribo indígena brasileira chamada Urubu Kaapor, situado ao sul do estado do Maranhão. Nessa tribo há um alto índice de surdez, um surdo para cada 75 não surdos. Muitos se tornaram surdos após febre altíssima, perdendo, assim, a habilidade para a língua falada.  


KARNOPP, Lodenir Becker; QUADROS, Ronice Muller de. Língua de sinais brasileira-Estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004
http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302006000100013

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