Evidentemente existe cultura surda. Ela surge da necessidade, assim como em qualquer organização
que busca o seu espaço na sociedade. Logo, a cultura surda, luta ferrenhamente
para legitimar a sua identidade própria com um conjunto de hábitos interagentes
através da sua língua natural.
Os
aspectos sociolinguísticos e gramaticais das línguas de sinais são heterogêneos. Segundo Perlin (1998), podemos considerar
a possibilidade de múltiplas identidades surdas, ou seja, elas são de fato
heterogêneas e apresentam diferentes facetas.
Existe uma associação entre a língua e a
cultura dos povos. Segundo o texto, aqui
adaptado, de Maria Helena Mira Mateus, da Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa-Rio de Janeiro, é normal afirmar que a língua tem identificação com o
fator cultural. Mas há alguns questionamentos sob esta afirmação perante a
constatação de que uma só língua identifica, frequentemente, culturas
distintas. Assim sucede com o Inglês, o Castelhano, o Português ou as línguas
faladas pelos Apaches e Navahos, no sudoeste dos Estados Unidos, idênticas às
línguas do Atabasca, no norte do Canadá e no Alasca (Titiev, 1963:324).
Ao
analisar diferentes perspectivas sobre as relações entre língua e cultura, a
citação do filósofo e linguísta, que longamente discorreu sobre esta questão, Wilhelm
Von Humboldt, diz o seguinte, num dos seus mais interessantes escritos, que tem
o elucidativo título de "Sobre a origem das formas gramaticais e sobre a
sua influência no desenvolvimento das ideias”:
1.
As palavras são como "objetos reais"
e as relações gramaticais servem apenas de nexo; mas o discurso só é possível
com o concurso de ambas (p. 14). Contudo, o que caracteriza o mérito de uma
língua são as suas formas gramaticais, que permitem a representação do
pensamento abstrato.
2.
As características da forma
possibilitam o reconhecimento da "ação do pensamento", pelo que uma
língua nunca alcançará uma excelente constituição gramatical se não tiver o
feliz privilégio de ser falada, pelo menos uma vez, por uma nação de
inteligência viva ou de pensamento profundo (p. 33).
Existe,
portanto, entre língua e pensamento caracterizador de uma nação (entenda-se
também, cultura), uma dialética impulsionadora da elevação do pensamento
abstrato, que tem como motor inicial a superioridade da comunidade nacional.
Em resumo, visto que esse mote é muito
interessante e lato, a língua materna de cada indivíduo contribui poderosamente
para se reconhecer a si próprio e para ser reconhecido pelo outro. É na
realidade um fator de identificação cultural, mas no uso, e pelo uso, que dela
faz o indivíduo no contexto em que está inserido e não apenas por pertencer a
uma das várias comunidades que a utilizam a mesma língua. Como
reflexão: “Se a língua é um fator de identificação cultural, como se compreenda
que uma língua viva em diferentes culturas?
A dinâmica é que todo grupo social desenvolva
a língua e a cultura paralelamente. Pois o
seu desenvolvimento de percepção e de formação de personalidade se construirá,
basicamente, entre essas duas vertentes. Dentro dessa proposta, entende-se que
o sujeito se constitui numa crescente construção, à medida que interage com as
perspectivas culturais que o seu meio ambiente lhe proporciona. No entanto,
alguns sujeitos, que pertencem a um grupo social, no caso os surdos, não têm as
mesmas prerrogativas. Isso devido a alguns fatores, sobretudo socioeconômico. Logo
esses indivíduos ficam restritos de progressivo desenvolvimento que acaba
comprometendo a sua própria identidade surda.
A língua é, evidentemente, fruto da cultura.
Mas a cultura também é muito resultado da língua. Visto que ambos se complementam necessariamente.
Diversas são as línguas de sinais. Cada país tem a sua língua de sinais própria que diferem
de outros países. Basicamente são 177 as
línguas catalogadas, além dos dialetos; peculiaridades e variantes regionais
de cada região. Logo essas línguas são
organizadas conforme suas especificidades.
Numa língua de sinais os gestos e sinais não
possuem os mesmos conceitos e sentidos. Pesquisadores
como Jordan e Battison, concluíram que uma língua de sinais não é transparentemente
inteligível por surdos monolíngues de outra língua de sinais. Um exemplo é o
nosso sinal manual para NÃO, numa comparação entre a nossa língua de sinais e a
americana, os gestos, possuem semelhança idêntica, mas o seu conceito é
diferente. Pra nós o tal gesto caracteriza Não, para os americanos sinalizantes
significa ONDE.
As variações lingüísticas na LIBRAS é causado
e feito no meio ambiente social que cada indivíduo surdo está inserido. Nascem daí as suas particularidades, sotaques, gírias e
todo um conjunto de hábitos típicos de cada região, conforme toda língua
natural qualquer. E além das LIBRAS, com seus dialetos, tem também aqui no Brasil a língua de sinais usada por uma tribo
indígena brasileira chamada Urubu Kaapor, situado ao sul do estado do
Maranhão. Nessa tribo há um alto índice de surdez, um surdo para cada 75 não
surdos. Muitos se tornaram surdos após febre altíssima, perdendo, assim, a
habilidade para a língua falada.
Fonte: http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2001-mhmateus-quando_uma_lingua_vive.pdf (ACESSO EM 21 ABRIL 2012);
KARNOPP, Lodenir Becker; QUADROS, Ronice Muller de.
Língua de sinais brasileira-Estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004
http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302006000100013
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